terça-feira, 6 de agosto de 2013

"Me confesso".

Ai se eu soubesse?!...
E se tu soubesses?!...
Não… não sabes a razão do meu indolente desprezo por ti, mas na certeza eu sei que não fui capaz de vencer a ansiedade e fazer jus a tão raro encanto absorvido pelo meu olhar.
É um facto… e não me perdoo por ser escravo da timidez, mas nem sempre o momento é proporcional ao local e a coragem esvai-se num indesejável sabor amargo… por não ter avançado… e seguindo minha intuição de lutar sem receio de enfrentar a multidão.
Agora sei… quanto baste, quão dói perder algo… mesmo que virtual, mas o desejo é real e confesso não saber lidar com o fruto do meu pecado.
Ai se tu soubesses?!...
E se eu soubesse?!...
Não provaria o fel derramado... nem sentiria o nó apertado que me corta a respiração, evitaria o sufoco causado pelo ensejo do meu perdão, enfim, o tempo passa e na devassa voa meu pensamento… fiel ao meu olhar... e na esperança de conquistar tão desejada amizade agiu sem medo do “NÃO”, mas no vazio se desvaneceu o encanto que outrora meus olhos enxergaram no horizonte da imensidão.
Perdido no tempo… sigo o rasto duma luz ao fundo do túnel, dum pontinho no escuro que oriente minha visibilidade, e tal como um cego nas trevas perdido… alcança o destino através da sensibilidade, eu alcançarei a Estrela sumida, um pontinho de claridade que ilumine meu ensejo:
“Pura Amizade”!
“Domingos Quintas”.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Sentimento de Anjo…

Por ti chamo… meu Anjo, se Anjo for o que Penso.
Ai… meu Sentimento, voa estouvado no tempo procurando meu Anjo.
Quanto anseio crer no SER… Encarnação D’Arcanjo
Por quem meu Sentimento voou… na ânsia de o ver voar.
Ensejo ou Fé?!... Parco de Crença, mas jurei acreditar!
Será que voa… ao sabor do vento... como voa agora meu Pensamento?!...
Malvadas asas… que siaram, traindo meu Sentimento
Num Célebre voo picado… entre as nuvens e o Mar.
Rica sina… despenhar-me, na Ara… Sagrado Altar
Onde nadava uma Sereia… Encarnada D’Arcanjo!
Ai… meu Sentimento!... Mergulhou em águas turvas… procurando meu Anjo.
Por quem chamei… meu Anjo?! Se Anjo fosse… o que penso!...

Autor: Domingos Quintas

domingo, 26 de dezembro de 2010

Coração Reflectido


Coração
Reflectido


Sigo o rasto de quem riscou… 
O traço que retratou um Ser reconhecido.
É tão vasto… para quem laçou, 
O nó que segura o presente ao passado:
Um Coração Partido!?...
Será que o negro… de fundo, 
Reflecte a Luz de outro Mundo... que se julga apagado?
Um Coração Esquecido?!..
Será o rubro… um Sinal no Escuro,
Escondido atrás do muro e que na Tela foi Pincelado?!...
Um Coração Perdido?!...
Mas o Brilho ilumina o espaço…
Ofuscando qualquer devasso que devaneie no desenhado!
Sinto a corda, um forte Laço...
Resistente ao cansaço amarrando o Sentimento: O Elo unido.
Um Coração Querido?!...
Sinto no Preto… luto brejeiro,
Um Beijo ao Rubro gela o braseiro 
E jura um Adeus consentido.
Pensamentos de Zé olheiro
Que pelo tacto quase enxerga.
Talvez cego, mas lisonjeiro: sente o Elo derrotado.
Um Coração Falido?!...
Mas a Esperança… estará no Poço?
Trunfo Copas galga o fosso…
E ganha o Jogo mal parado.
Um Coração Sofrido?!..
Feliz do Sósia… imaginário, 
Sentir-se fogo refractário
Do Amor reclamado.
Um Coração Sentido?!...
Talvez um pouco de tudo…
A razão do grito Mudo
Que no Papel ficou Selado.
Fala calado… o sem rosto Sortudo,
Abafando o Beijo… suave e surdo,
Mas no silêncio Ecoa a Música:
O Fado do Amor vivido!


Autor: Domingos Quitas


sábado, 25 de dezembro de 2010

Sinais do Tempo

Sinais do Tempo
Mas porque ofusca a Luz… o Beijo no escuro?!...
É tão claro o Negro escondido,
É transparente o Ponto encarnado… a Raiz do traço desvairado
Que devassa… tão longe no Tempo!…
Que Leviano meu Pensamento… sonhando no presente o Momento!...
Voando estouvado ao sabor do Vento passeio nas nuvens o Sentimento!...
Caminhando no trilho do passado decifro o risco traçado…
À deriva… Perdido no Tempo!...
Num impulso… acorda-se aturdido!
Urge o Brilho Real da Luz: o outro lado do Muro!...
Belos Passeios… e Caminhadas no Duro
Linharam o Rosto… quase esquecido:
Rotas… Marcas do Tempo!
Entre futuro e passado existe um Ponto centrado
Que define o Presente! Vivendo lá… já me contento,
Varrendo o Sofrimento das entranhas do Pensamento:
Apagando-se no Tempo.
Quem não sente o Afogueado… que Gera o Rubro no Preto Pintado?!...
Absorve-se o Calor, aviva-se a chama num Braseiro adormecido.
Mas porque ofusca a Luz… o Beijo no escuro?!...

Autor: Domingos Quintas

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Súplica...

  

Súplica...

Pé ante pé... como chegar lá?!
Creio na Tua Fé... "Obra prima de Alá"!
Oro curvado na Ara,
Imploro e da Súplica... nada!...
Quando precisei... tanto procurei;
Não vi ninguém!
A Fé salvará... o tempo dirá qual é a Luz:
Hoje "Sou"! Amanhã não "Serei"!
O Deus da Vida Reinará e morrerá... por fim; sinto que esse "Dia" está perto!...
Assim será!... O Tempo dirá se estou certo...


Autor: "Domingos Quintas".
 !2-01-1998









segunda-feira, 19 de julho de 2010

A Pedagogia do Professor Pinto

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A Pedagogia do Professor Pinto…

Falando de professores, não são apenas boas recordações que avivam a minha memória, porque “nos antigamentes” os métodos de ensino tornavam-se rudes, de modo que nem tudo “foram rosas”. Na hora da “aritmética havia “festa” pela certa, eram vários os candidatos a “dançantes a toque de cana”!
– O Albino comeu duas laranjas grandes e o Manuel comeu outras tantas, mas pequenas. – prosava o Professor Pinto... empoleirado no “palanque” de acesso ao quadro de lousa.
Depois de uma pausa propositada e fixando o seu olhar rude no olhar franzino do Tónio entrava de rompante para a questão.
– Quantas laranjas comeram os dois? – o momento de raciocínio do Tónio fora interrompido, aliás, o raciocínio de todos nós fora abalroado por uma entrada ainda mais brusca do que a anterior. – Comias uma laranja? Comias ou não... seu aselha  abelhudo? – ecoava na sala a aspereza das palavras proferidas à moda do Professor Pinto.
Claro que o Tónio perante a insistência do professor numa pergunta a dois tempos oscilou e hesitou na resposta, e pela aparência acho que ficou indeciso sobre o que deveria responder, se à pergunta sobre a quantidade de laranjas que o Albino e o Manuel comeram ou se ele mesmo tinha ou não apetite para comer uma laranja. E quando tinha decidido responder... eis que entra em cena o Professor Pinto, mas agora de “mansinho”:
– Não comias uma laranjinha?... Sumarenta... ia ou não ia? – insistia o professor, acarinhando as pernas do Tónio com a “dita cuja, mas só de encosto e acompanhando a prosa com um sorriso encantador (cínico). Perante tanta meiguice o Tónio lá respondeu:
– Comia... – e quase nem terminava o verbo, porque a expressão do Professor Pinto mudou bruscamente de tom, e de cana em riste disparava:
– Então... tu comias uma laranja na sala de aula? – e baixando a cana ao nível das pernas do António agitava-a ao “de leve” até roçar-lhe as calças.
O Tónio já tinha dado um passo de dança à retaguarda, porque senão a cana além de roçar as calças teria roçado as pernas, e prevendo uma dança continuada tratou logo de renunciar ao seu apetite..
– Não! Não comia! – emendou o Tónio... dando o “dito por não dito”.
– Ai tu não comias uma laranjinha docinha... palerma?! – vociferava o Professor, dando corda à dita cuja e fustigando o  “cu” do Tónio. 

Escusado será dizer que a dança foi bem representada pelos dançarinos, batiam  passo certinho ao toque da batuta, o brinquedo do Professor Pinto. A cada movimento da batuta... quatro saltos do dançarino tentando fintar o golpe, e como era tão certinho confundia-se com o “Vira”. Pois, quando a batuta subia de nível as mãos do Tónio teriam de acompanhar o movimento, e claro... os braços lá no alto... e as mãozitas acenando no vazio...

A cada salto tão certinho gingava um corpo franzino... e agora acompanhado por um choro afinadinho, enfim, mais parecia um “Corridinho” dançado no Folclore. E a festa alargava-se para lá do “palco” noutro estilo de sinfonia e tocada por convidados do Professor, a meia dúzia de alunos que alinhava no coro de gargalhadas. Coitados, só tinham duas hipóteses, alinhar ou desfilar para a “chacota”, e na inocência da infância... antes no coro do que no “palco” ao pé do Tónio.
– Olhai este melro, não sabe o que quer! Apreee... que burro! Brebreberebrebe! Calvalgaduuuuura! Aselha! És um asno!... – vociferava o Professor, imitando os burros...  comparando e atestando a identidade do “puto” como tal. E depois de muita dança, muita “chacota e incitando os restantes alunos a troçarem do Tónio, lá se decidia pelo dito problema.
– Quantas laranjas comeram eles?! – perguntou rudemente o professor Pinto munido de cana em riste... exigindo resposta na ponta da língua. – Oh meu asno... quantas laranjas comeram eles?!..  Arre buuuurrro ! Apre! – vociferava o professor Pinto... dando ordem à orquestra mediante o movimento da sua batuta. E lá começava o “vira” orquestrado pelo Professor Pinto, dançado pelo Tónio e aplaudido pelos restantes “meninos do coro”. E quem no coro desafinasse a música dos aplausos provava o efeito da dita cuja num roçar de orelhas. Quando isso acontecia teríamos pela certa espectáculo de “variedades” com vários “artistas” a formarem um elenco de alto gabarito. Sobressaía a gaitada em tom agudo, mas também lá havia quem tocasse trombone… num tom mais grave. Às vezes representavam em tão ilustre palco quatro a cinco “dançarinos” em simultâneo.
– Diz-me lá tu... meu aselha, quantas laranjas comeram o Albino e o Manuel?  Ou não sabes fazer contas?! – atacava o Professor... constantemente sovando. E perante tal cenário, "agora saltas tu... agora salto eu... depois salta ele", a dança “virava” mista alinhada à moda dos “pauliteiros”.
– Olhai estes... também não sabem fazer contas de somar! – continuava a “chacina” do mestre da escola, agora orquestrando um coro desafinado de choros.
– E tu aí... meu marmelo, estás muito caladinho com ar de sonso! Quantas laranjas comeram eles? – acenava o mestre com a batuta na minha direcção tentando recrutar mais um dançarino. Mas eu já conhecia a “besta” desde o ano anterior, aliás, o maestro outrora tentara testar as minhas capacidades “sassaricas”, mas marcou passo a partir do momento que foi surpreendido pela minha tia, a empregada da escola.
Recordo o momento em que minha tia muito educadamente o chamou à atenção, mas decerta forma humilhou-o perante todos os presentes. Desde então deixara de contar comigo para participar no grupo de dançarinos e só me interrogava depois de semear o pânico na sala de aula, depois de projectado o filme de terror ao vivo... com o intuito de me baralhar e me induzir no erro.
– Também não sabes... sonso?! – “rosnava o bravo”, e através de seu olhar tentava amedrontar. Mas eu estava o suficiente lúcido para perceber que o raspanete da minha tia cortara-lhe as bases, e pelo facto, até o nível de confiança aumentou ao ponto de me sentir seguro de que respondendo bem ou mal jamais me “orquestraria”. Isso estava fora de hipótese, era coisa pouca, ele queria mais… e só não levou avante os seus intentos no ano anterior porque não era o Director, porque caso o fosse teria orquestrado a marcação de passo na sequência escolar. 
Eu já pressentia o meu destino e desde logo me preparei para fazer um ano de treino na quarta “classe”... mesmo que nas “provas (folha de vinte e cinco linhas e tarimbada com selo... sei lá de quê),” eu tenha correspondido com boa prestação, mas para saciar o seu desejo e pelo facto de ser Director usara dos galões e puxara do trunfo na hora certa  ao decidir a jogada com um reles xeque-mate.
Bem, mas voltando “à sala de teatro” e resumindo o espectáculo, devo dizer que nesse dia de terror até eu perdera a noção de quantas laranjas tinham comido o Albino e o Manuel. Depois de semelhante aparato e perante tantos dançarinos em palco eu ficara aturdido de tal maneira que nem sequer me lembrava do enunciado do dito problema. Creio que todos sentiram na pele o mesmo efeito que eu senti, por isso hesitavam e não arriscavam responder. Mas num instante eu sintonizara a frequência exacta e respondi de assentada:
– Comeram quatro laranjas. – respondi coerentemente,  e embora estivesse a leste tinha ficado registado no subconsciente que se tratava de partes iguais. E tão depressa respondia como tão depressa fui louvado através de doces palavras “aclamadas” em palco pelo Sr. Director:
– Alto lá!... Este não é tão burro como aqueles, merece um prémio! – e continuava com as condecorações verbais – Também não é preciso ser muito ”fino” para saber que dois mais dois são quatro. E já que és muito esperto... desanda daí, salta para o quadro e faz o seguinte problema. – ordenava num tom mais que autoritário enredando um problema para me testar.
E pronto, sorte para os dançarinos em palco, tinham direito a pausa após tão atribulado bailarico, e enquanto eu me desdenhava diante o quadro para contrariar seu objectivo os restantes artistas entretinham-se a coçar as pernas devido às cócegas provocadas pela batuta.
Bem, e no final do ano lectivo obtive um prémio de consolação pelo simples facto de ”não ser tão burro”... tal e qual o proferido por si após a resolução do problema das laranjas. Um prémio “maquiavélico” ao usar a minha idade como trunfo para matar a jogada, o “óbvio xeque-mate”. Pelo meu desempenho nas aulas não teria argumento para me fazer marcar passo, mas condicionando a data de matrícula... devido à minha idade na época (seis anos), abrira-se uma janela para concretizar seu intento. E conseguiu, argumentando que eu não tinha idade para ser submetido a exame  e que pelo facto da minha matrícula estar registada com seis anos de idade teria de me juntar à próxima geração.
Guardo a triste recordação pelo ar semblante expressado no rosto de minha mãe após escutar semelhante aberração da boca do mestre-escola, o agora Director. Caricato o facto de o Sr. Director lamentar que não tinha poderes para contornar a situação, apenas poderia garantir lugar cativo no exame da geração seguinte junto aos alunos matriculados em mil novecentos e sessenta e oito, o ano em que eu deveria ter sido matriculado... porque só nessa data completaria os sete anos.
Perícia de um “mestre-escola”… Director com “dotes de malabarista” que me garantira exame “cativo” no ano seguinte. E não tinha poderes para outra solução, mas teve poderes para me condecorar com o prémio de consolação, ou seja, a oportunidade de repetir a dose no quarto ano... só pelo facto de se vingar do “despropósito” de minha tia...
Parece “anedota”?!... Mas não é!...
Este foi apenas um exemplo de falta de pedagogia do Professor Pinto e de tantos outros da mesma espécie, dominadores de mentes frágeis que misturar questões sem nexo nem assunto atrapalhavam o raciocínio dos alunos. E o Tónio sentiu na pele o “domínio” bem real através dos dotes “artísticos e malabaristicos do mestre-escola”, O Professor Pinto…

Autor:Domingos Quintas”.
25/3/2009

domingo, 18 de julho de 2010

A Ilha dos Sonhos!

A Ilha dos Sonhos 

    -"Cai a noite... espreita a Lua nas Montanhas do meu horizonte, sombreando a vasta nobreza do Esplendor que meus olhos enxergam. Ao longe... o Sol beija o mar e vai-se embora, rompendo a Aurora noutro lugar; um novo dia vai reinar... e roda a Bola sem parar". 


   Foram estas as últimas palavras dum velho legado, proclamando em testamento a Vida Pacífica do seu Ornado, na Ilha dos Sonhos, deslumbrando a paisagem a dois tempos, sentindo-se a... vaguear acordado por caminhos jamais imaginados... num mundo irreal! Continuou caminhando sem destino por atalhos desconhecidos, quase como um perdido numa feira apinhada de fantasias, e de repente... o trilho terminou num abismo, no qual se precipitou sem querer, quase como que empurrado. Num impulso sentiu-se voando sobre copas de Árvores que decoravam uma Floresta... um Bosque... um Jardim... um ninho de Plantas... um emaranhado de cores que  enfeitava tão vasta paisagem, mais parecendo uma tela pincelada de motivos ajardinados, salpicada a mil e uma cores; uma Flor gigante! 


   - Lindo! Lindo! - ovacionou o Velho no seu silêncio, voando como um pardal estouvado... brincando no tempo, tirando partido da aventura  no seu primeiro salto. E lá continuou sobrevoando aquela Flor gigante em formato de Bola; uma miniatura do Planeta Terra... malhado de todas as cores possíveis. Procurou uma porta de entrada naquele Mundo desconhecido, mas após muitas e muitas voltas à volta da Bola Colorida... nada encontrou. Parou no tempo e olhando em seu redor... deslumbrou-se pela vista de Astronauta; uma "Bola Azul" pairava na imensidão de um Tecto Estrelado.. lá longe!


   - A Terra! A minha casa está ali... lá longe! Como voltarei?! -  meditava  o Velho, esquecido de "Si". Nesse  instante... dançou num remoinho de vento, levitando como uma pena, e com pezinhos de lã rompeu um suave telhado ajardinado; uma fina ramada macia... como veludo, cobria o novo mundo que surgira a seus pés. E perante seus olhos ameninados nascera um Mundo de brincar, no qual entrou e pasmou por... tudo quanto viu!  


   - Mas que lugar este... emanado de Paz! Um Jardim... um Paraíso sem igual! Será que é mesmo verdade? - meditava o Velho, interrogando-se a si mesmo. - Onde estou?! Pensei que não existissem mundos assim!...


   Mas afinal havia lugares assim, ele estava lá... num desses, naquele Mundo de brincar. Num impulso bradou aos Céus, gritando... na esperança que alguém o pudesse ouvir, e em poucos segundos o eco do seu grito abafou o silêncio que até ali pairava. Um coro afinado expandiu pelo arruado de Árvores perfiladas em dupla ala, formando portentosas colunas ... alinhadas por sombras provocadas pelos raios de Sol que rompiam por entre as Folhas e Flores que telhavam a Floresta. Desabrochavam brechas de Luz por tudo quanto era espaço, fazendo inveja aos melhores e mais belos Vitrais que ornamentam as Catedrais. As Árvores abraçavam-se através de seus longos ramos... como se de braços se tratassem, embrenhando-se-se e entrelaçando-se de "Irmã" em Irmã" arquitectavam imponentes Arcadas que sustentavam uma Abobada Natural!


   Alucinado por tamanha Preciosidade o Velho julgou-se Monge sob os Claustros dum Convento Franciscano, num Monumento com corredores Abobadados e pintados de Frescos Naturais. As variedades de Flores que pendiam das ramagens davam cor e aromatizavam toda a área circundante, polvilhando um doce Incenso na Brisa que gemia ao soprar na Folhagem, soando uma "Melodia de Embalar".


   Estático ao centro da Avenida... ainda incrédulo, alongou o ângulo de visão até ao fundo do Corredor Arborizado, saboreando a magia do lugar. Alinhou em frente e em passo solene desfilou descalço sobre um fofo Tapete de Folhas jazidas que se estendia ao longo de tão Nobre Galeria. Ao fundo do túnel jorrava Luz, reflectida num Espelho de Água que dominava uma imensa Clareira iluminada... como uma Capela-Mor duma qualquer Templo ou Abadia perdida no Tempo. Ofuscado pela Luz... imaginou um Altar ao qual se teria de curvar e benzer... agradecendo aos Deuses por tão privilegiada Aparição. Emocionado, curvou-se perante a Ara... Louvando ao Majestoso e num acto repentino voltou costas ao Altar, fixando um ténue olhar ao longo da Célebre Passerelle onde por momentos desfilara.


   As Árvores murmuravam ao sabor da Brisa perfumada e suas copas dançavam uma Graciosa Valsa apaixonante, abrilhantando a Gala à Luz das lamparinas psicadélicas... geradas pelos raios de Sol que nelas se infiltravam, simulando uma iluminação de Natal; um Presépio animado dos seus tempos de Criança.


   “Ornada” a Vénia ao Majestoso rodou sobre si e avançou em direcção à Capela-Mor, caminhando em pé descalço... vestindo a pele dum Anjo Soberano, legado daquele reinado. Um Manto Verde revestia o Recinto Espiritual... como um tapete, com rochedos a enfeitarem a paisagem deslumbrante que o brindava, mais parecendo um Colar de contas prateadas ornamentando uma Tiara. Curioso... galgou morro acima e mirou em seu redor.  


   - Mas será que estou aqui! - meditava no seu silêncio... pedrado pela fantasia, sentindo que aquele mundo era seu... e só seu. - Mas quem desenhou tão belo lugar no meu pensamento!? Isto é a brincar! Será que estou a sonhar?! 


   E para acalmar o entusiasmo sentou-se numa das várias pedras soltas, os bancos de... sofá,  que jaziam sobre o Verde Tapete Natural. 


   - Mas... ouço um murmúrio no ar! Será alguém a espiar? Mas quem!? Estou a delirar... ou a sonhar?! - interrogava-se o Velho, confuso naquele Mundo.

    Depois da pausa para reflexão o Velho levantou-se e lançou o olhar explorador perante a imensidão, mirando a vasta Floração que o rodeava.


   Nas ladeiras ao pé do lago desabrochavam Flores Silvestres de todas as espécies e cores, misturando-se pelo Verde Tapete de Trevos e Ervas daninhas que cobriam o chão. As Cercas dos Arruados vestiam-se de Roseiras, Lírios, Hortênsias e Sabugueiros, forrando Floridas Sebes ao longo dos carreiros sombreados pelas Ramadas de Cachos, Eras e outras Trepadeiras. Nas encostas dos Valados pendiam Chorões, Musgos, Funchos... e Morangueiros que acompanhavam o riacho na viagem até à foz, mergulhando em queda livre, roçando a falésia... borbulhando em cascata até à bacia do lago. A água luzia como um diamante beijado pela Luz do Sol, cintilando um azul-turquesa... anelado pela multi-cor que o rodeava; um arco-íris que se formava quando o Sol  esbarrava no orvalhado da queda de água. 


   - Soberba paisagem... como num conto de Fadas! - pensou o Velho, fixando o olhar no cristalino espelho de água... onde seus olhos bebiam e brilhavam, como estrelas iluminadas pelo Rei Sol.


   -“Quem gerou tamanha Jóia neste mundo de ninguém?!” - e juntando as mãos em concha usou-as como megafone... gritando com voz forte para quem o pudesse ouvir.


   - Estou aquiiiii! - e de novo seu grito ecoou no espaço, dando o recado em várias frentes até ficar calado, mas num instante surgiu um sinal no fundo do Vale... adormecido a seus pés. Uma Manta Colorida deslocou-se no Céu Azul como um Véu, esvoaçando ao sabor da Brisa! Uma salada de Verdes, Encarnados, Amarelos, Anilinas... e muitas outras cores do imaginário coloriram o Tecto Azul numa Aurora Boreal! Mas a surpresa não se ficara por ali... 


   - Ohoo! Afinal não estou só! Mas... isto é Vida! Viva a Vida! Viva a Vida! - exclamava o Velho, entusiasmado pela companhia das muitas espécies de Aves que sobrevoavam o lugar, tornando o lugar num Paraíso sem igual. E num abrir e fechar de olhos o cenário mudou de visual, como que içando o pano numa peça de teatro. Ao palco subiram vários Personagens... de muitas espécies, algumas jamais vistas em qualquer parte do outro Mundo, aquele que pairava lá longe... suspenso no Céu. Naquele momento a ansiedade apoderou-se de si e por instantes a distância gerou solidão, sentindo-se só num Mundo longínquo do seu... e sem os "Seus".


   - Mas... mas como sabem que estou aqui?! - meditava o Velho, viajando no tempo. - Aqui... onde?! Onde?! Eu não me despedi de ninguém! Como sabem que estou aqui se não informei ninguém?! Ninguém! E... nem eu sei onde estou!


   O desespero aumentava e disputava a razão de causa por um sentimento entre dois Mundos: o presente... emanado de Paz, e aquele outro Mundo lá longe... parco do mesmo. O sentimento batera no fundo e o desejo de regressar ainda roeu a corda ao velho da urge, mas como... se nem ele sabia como fora ali parar?!


   De olhos postos na Esfera Azul... a sua Terra, murmurava de surdina, tentando recordar o momento da partida... e o que motivara tão "leviana" viagem. Mas nada ficara registado, apenas parte do percurso ficara gravado na sua mente; um voo acrobático... como um Passarinho.


   - Como vim cá parar?! - questionava-se o Velho, sem retirar o olhar do lugar de onde partira... e sem razão para tal. A saudade dava sinais de aperto e aliando-se ao desespero o nó ficara mais cego, difícil desatar o caminho de regresso. Num impulso instintivo tentou voar, mas esse dom que o privilegiara na viagem ao lugar encantado já se fôra, deixando-o estático... como uma estátua isolada olhando no tempo...


   Naquele momento o tempo parara, nem as Aves estouvadas... exibindo um espectáculo acrobático repleto de cor e som o conseguiam animar. Araras, Cotovias, Pegas, Andorinhas, Melros, Canários e muitas...  muitas outras espécies de Aves sobrevoavam o lugar, exibindo um espectáculo fenomenal, digno dum Paraíso encantado, mas na mente do velho o silêncio dominava, em seu redor tudo parecia escuro; só o Azul... na janela que seus olhos viam tinha sentido de existir. O seu ângulo de visão dimensionava-se apenas àquela Bola Azul suspensa no Céu, como uma Luz ao fundo do túnel; a saída desejada.  


   - Estou num buraco... bem fundo!... Como...  como sairei daqui?! - interrogava-se o Velho, num murmúrio desesperado. O momento era de trevas e as forças esgotavam-se a cada instante que passava, mirando a sua Terra... lá longe, parecendo cada vez mais distante.


   A sonolência apoderava-se da fraqueza do Velho, levando-o à exaustão e... moribundo, estatelou-se no Manto Verde, macio, fofo como Algodão... suave como Plumas de Pavão. Por instantes perdera os sentido, vagueando perdido no tempo e sem lugar, mas uma Fada Real fez jus ao seu poder sobrenatural; tocou suas mãos nas do Velho, sorriu e... com doçura exprimiu a saudação.


   - Seja bem-vindo à Ilha dos Sonhos! - saudou a Fada, num tom meigo e acolhedor.


   Naquele instante o Velho abrira os olhos semi-cerrados, preguiçosos e aturdidos pela Luz que radiava; a Áurea da Tiara usada pela Fada Real. 


   - Quem és tu?! - perguntou o Velho... ainda mal acordado. 


   - Eu sou a Fada Mariana, a Princesa deste lugar! - respondeu a Fada na doçura das suas palavras, exprimindo um sorriso aconchegativo.


   O Velho ficou estático... sem falar, atarantado pelo milagre que acabara de assistir perante tão digno Altar; a Fada Princesa do lugar era Alma gémea de sua Filha... que vivia no outro lugar... lá longe! Perante tamanha confusão exprimida no rosto do Velho, a Fada sorriu, confortando-o através da ternura de seu olhar. O Velho Laico... prostrado no chão, adorava a Fada, mas mudo, sem palavras... mais calado do que o silêncio, ostentando um olhar canónico que Santificava a Musa... diante tão Nobre Altar. 


   - Não tenhas receio de mim. - disse a Princesa, oferecendo sua mão num acto convidativo, como que apelando. - Levanta-te... vem ao pé de mim e sente quanto Pura é a Liberdade no seio deste Jardim. - e perante o silêncio do Velho a Fada quase  exclamou... no mesmo tom apelativo. - Desfruta a Paisagem! Vive a Vida no momento... e não julgues "passado" a Bola Azul que tens em mente!


   O Velho nem pestanejou... como se estivesse sob efeito hipnótico, obedecendo de pronto ao apelo da Princesa segurou sua mão e sem meias palavras acompanhou-a, curioso e mais pasmado do que quando ali chegou. O brilho voltava aos seus olhos, transparecendo felicidade perante privilegiada Aparição que transformara um pesadelo num passeio mágico... e de mão dada na Princesa Mariana; a Fada do lugar. E numa afona singular o Velho corria... saltitando em roda-viva como se estivesse dançando uma "Moda Antiga" dos tempos de outrora. A idade ficara para trás e o Velho rejuvenescido mais parecia um puto redio na loucura da puberdade, e ainda mais surpreendido  ficara pela força e pujança que possuía, galgando os Lavradios sem precisar das tamancas que esquecera no outro "Sítio"... lá longe. Mas ali não faziam falta, nem sentia os pés no chão... parecia voar. E de mão dada na Fada subiu e desceu Outeiros, quase levitando... como Plumas dançando ao sabor do Vento... na rebeldia do movimento.


   A vista magnifica deslumbrou o Velho de tal forma que se esquecera de si mesmo, sentindo-se presente numa outra qualquer Encarnação... num Mundo de brincar. Após longa caminhada sentaram-se nos rochedos que adornavam o cume da Colina; uma cadeira Real no mais alto ponto miradouro sobre o Vale. Os sons ecoavam de todos os lados numa harmonia Celestial, um coro em sintonia... uma Orquestra Divinal. O chilreio das Aves, os balidos das Ovelhas, o coaxar das  Rãs que se espraiavam na margem do lago... e todos os imagináveis sons eram Orquestrados  numa Sinfonia pelos animais que moravam no lugar, soando música teatral; uma festa sem igual... numa sala de espectáculos com acústica natural!


   As Borboletas faziam jus aos seus dotes de Bailarinas acrobáticas, exibindo seus padrões como vestidos de mil cores em bailados coordenados. E tudo à volta era fantasia na cabeça de "Menino... dum Velho varrido". A certo momento trocaram o olhar, sorriram... e de assentada a Fada apontou para um sítio que o Velho ainda não tinha enxergado. 


   - Olha além do Vale! - sugeriu a Fada. – Vê a Vida Florescer na Paz do Esplendor desta Selva em Flor. 


   - Mas ali está o Mar! - exclamou o Velho, atarantado com  tamanho presente... uma imagem familiar - Eu conheço aquele lugar!... Olha o Sol a beijar o Mar! - e num impulso levantou-se, espreitando mais além, murmurando  num doce gemido... como que louvando: soluçou. - O Sol!... a poisar!...


  Mas na penumbra do horizonte sua Majestade espreitava, aquela "Bola Azul", e preocupado perguntou : - Diz-me Princesa... como vou para além? - e com o dedo indicador apontou a "Bola Azul", esperando pela resposta da Princesa Mariana. A Princesa sorriu, elevou o olhar até à Bola Azul... estendeu-lhe a mão e disse:


   - Vive a Vida neste lugar, respirando o ar puro em teu redor e não te preocupes, porque ainda tens muito para visitar! - lembrou a Princesa.


  O Velho esboçou um sorriso, sentindo-se mais tranquilo quando escutou as palavras da Princesa. Estendeu sua mão... entrelaçando-a na da Fada e continuaram a galgar Montes e Outeiros, ouvindo os Pássaros "cantar aquela música fina"... característica daquele lugar. As mil cores com que a Flora coloria o quadro em seu redor  pasmou-o de veras, e num grito de louvor proclamou:


   - Viva a Vida na Ilha dos Sonhos! - e abraçado à Princesa do lugar... saltou, dançou e rolou no Verde Prado com todos os Animais, respirando o ar perfumado que pairava no lugar.


   Depois de muitas e muitas loucas corridas pelos Vales, Montes e Outeiros da Ilha dos Sonhos a noite espreitava o lugar... lá longe, e a Princesa perguntou:


   - Oh Velho... estás cansado? - e  o Velho Laico esboçou novo sorriso nos lábios, acenando com a cabeça como que entendendo a dica da Princesa, aproveitando para se deitar sobre o Manto Verde... olhando o Céu, e disse:


   - Adoro este lugar!... Oh Princesa... como poderei cá voltar? - a Princesa olhou-o nos olhos e disse:


   - Sempre que queiras voltar as portas estarão abertas! - mas o Velho interpelou-a:


   - Mas... se nem sei como regressar até à "Bola Azul"... e já estou a planear cá voltar... - a Princesa riu, e para o tranquilizar cortou o fio à meada:


   - Não te preocupes; amanhã... quando acordares, perceberás como poderás voltar. – mas o Velho continuava a não entender e voltava à carga:


   - Oh Princesa... mas quando é que regresso ao meu lugar? -  insistia o Velho... quase como uma lamúria, mas a Princesa para o acalmar deitou-se a seu lado, e acenando para o Sol comentou:


   - Quando a noite chegar, a Lua vai brilhar e nós vamos dormir um sono profundo, e amanhã... quando acordares, novo dia será... e verás como a viagem de regresso é mais rápida do que o que tu pensas.


   Após o esclarecimento entraram numa conversa afiada noite dentro, curtindo as Estrelas que cintilavam num Tecto escuro... como que  espreitando a Ilha dos Sonhos. E depois de tanta conversa chegara a hora de nanar, e o Velho... abraçado à Princesa, penetrou num sono profundo, sonhando com o lugar, mas de repente...


   - Ooh!... Estava a sonhar!...- e sentindo-se abraçado à sua Filha Mariana sorriu no silêncio... percebendo onde estava murmurou seu "pesar". - Mas... a Ilha dos Sonhos foi um Sonho!... - e num gesto desanimado enrolou-se sob os cobertores... tentando embarcar numa viagem que o levasse  até à Ilha dos Sonhos, mas no momento os sinos dançaram nos campanários da torre da igreja, repenicando seis potentes pancadas; anunciando a hora do despertar para a saga do dia-a-dia.


   O Velho levantou-se... e depois duma noite passada num lugar como a Ilha dos Sonhos não haveria razão para desanimar, porque à noite tentaria a viagem; afinal a Princesa Mariana dissera que as portas ficariam abertas sempre que ele quisesse lá voltar. E assim foi; à noite o sonho levou-o àquele lugar maravilhoso... e encontrou a Princesa Mariana, a sua companheira de sonho na Ilha dos Sonhos!


   Durante muitos e muitos anos o Velho Laico visitou a Ilha dos Sonhos, mas um dia não regressou, alongando a estadia para a Eternidade, mas deixara em testamento o Mapa do lugar e um Rol que narra a viagem até à Ilha dos Sonhos; uma mensagem a todos os sonhadores:


   - "Vivam um Sonho igual"!...

Autor: "Domingos Quintas" 
22/11/2008